16 de agosto de 2007

Terceira Aula -16/08/2007 - Parte 1


CONTEÚDO PET

Entrevista pingue-pongue
Luísa Machado Moreira
Por Fernanda Rafaeli Gomes


Quem pensa que veterinários são somente aqueles que cuidam de cães e gatos em consultório, está prestes a descobrir que cuidar e tratar de animais pode ser algo muito mais difícil, trabalhoso e delicado quanto se possa imaginar, pois requer além do amor pela profissão, muita dedicação. Formada pela Pontifícia Universidade Católica de Uruguaiana (PUCRS) há 18 anos, Luísa Machado Moreira tem seu trabalho reconhecido em São Leopoldo desde 1993 e em Esteio há 12 anos. A médica veterinária trabalha em duas clínicas, alternando horários de atendimento aos animais, inclusive nos finais de semana e feriados. Ela e seus dois sócios realizam feiras de filhotes semanais na matriz, além de vender pequenos exemplares em ambos os estabelecimentos.

1) Por que você escolheu a medicina veterinária? O conhecimento recebido na universidade é suficiente para a prática diária?
Por ter sempre animais em casa, foi uma escolha natural pela profissão. Quando eu tinha 11 anos, uma pessoa da família fez a clássica pergunta: "O que vais ser quando cresceres?" e eu disse na hora: veterinária. Desde então, não mudei de idéia. É uma profissão onde sempre se aprende algo novo, a cada dia uma história diferente pode acontecer.
O que se aprende na faculdade é a base, é de onde eu tirei os conhecimentos fundamentais para exercer minha profissão, porém só com a prática eu vou, a cada dia, tentando ser uma profissional melhor. O trabalho me leva a adquirir novos conhecimentos.

2) Como é seu dia-a-dia? Caso tenham acontecido, quais foram as "ilusões perdidas" e quais foram as "gratas surpresas" em relação ao seu trabalho?
Meu trabalho tem rotina e também não tem, considerando que cada animal que eu trato apresenta-se de um jeito. Há animais mais quietos, os mais agitados, os tímidos. Deve-se sempre tentar saber como é o paciente para poder tratar do melhor jeito.
As ilusões foram se perdendo à medida em que eu pude ver que nem todos os animais recebem o tratamento que merecem e que muitos proprietários não se dedicam como seria o ideal. As surpresas boas ficaram por conta de pessoas que, mesmo não tendo condições ideais de tratar o animal, desdobram-se por ele e fazem todo o possível e, às vezes, até mais pelo bem estar dele.


3) Quais são as maiores dificuldade na sua profissão? Tratar dos animais ou lidar com os proprietários?
As dificuldades são encontradas quando o clínico tenta prescrever um tratamento e o proprietário só tem obstáculos – "Não tenho tempo", "Não tenho dinheiro", "Ele não toma o remédio", "Ele é muito feroz", "Eu tenho medo dele" - Isto dificulta o bom atendimento. Quanto aos pacientes, é muito incomum ter problemas com eles.

4) Há riscos que o médico veterinário pode enfrentar com relação à própria saúde ao atender um animal doente?
Há riscos físicos como levar uma possível mordida ou algum arranhão e os riscos de saúde propriamente, como ser contaminado por algum vírus (raiva), bactérias (leptospirose), fungos e bactérias de pele.

5) Do que você sente falta em relação à tecnologia e infra-estrutura na sua área? Os profissionais costumam se atualizar diante das novidades?
Na nossa região, ainda não se dispõe de um aparelho para exame eletroencefalográfico e o diagnóstico é dificultado nestes casos. Quanto aos profissionais, nem sempre é possível fazer uma atualização acadêmica, pois temos muitas dificuldades, em especial os médicos veterinários do interior, de estar em dia com as novidades, mesmo tendo acesso à internet, pois os lançamentos costumam se limitar às capitais e regiões metropolitanas.

6) Qual é o papel fundamental do médico veterinário perante a sociedade e quais seus deveres e obrigações em relação ao atendimento clínico?
O médico veterinário tem papel fundamental na saúde pública, orientando a população sobre zoonoses (doenças que são transmitidas dos animais para os seres humanos e vice-versa) e na inspeção de produtos de origem animal.
As obrigações são: esclarecer o proprietário quanto às vacinas, medicamentos, alimentação, passeios, banhos, doenças e também orientar o proprietário sobre a posse responsável, sobre castração, cuidados ao andar na rua com o animal, uso de focinheiras, etc.


7) Como está o mercado de trabalho do médico veterinário? São muitos os profissionais?
O mercado de trabalho é um pouco restrito em função do grande número de profissionais atuantes na área.

8) Digamos que você adote um filhote. Como escolher um bom médico veterinário e quais seriam os principais questionamentos do proprietário novato?
Deve-se sempre procurar um profissional sério, que respeite o proprietário e o animal. Ele deve esclarecer quais procedimentos relacionados à idade e à espécie (canina ou felina), vacinas, medicamentos, cirurgias e passar uma sensação de segurança para o proprietário. Se possível, ter informações sobre o profissional com outras pessoas.

9) Basta gostar de animais para ser um bom médico veterinário?
Não basta gostar de animais, é muito mais importante o profissional ter uma postura séria e ética, embora seja muito desejável que, junto com isso, o profissional também goste dos animais. Neste caso, há empatia, que é fundamental em qualquer profissão.

10) Qual foi o pior caso que você já atendeu e qual foi o mais curioso?
O pior caso é sempre o que está por vir, mas eu lembro que atendi um cão que foi atropelado por um caminhão. A pele do animal "soltou-se" inteira e não foi possível recuperá-lo. Já o caso mais curioso foi de um gato cuja proprietária me perguntou se ele poderia ter se intoxicado com um determinado produto e, quando eu perguntei quando ela tinha utilizado o produto no animal e ela respondeu: "Nunca".

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